13 de mar. de 2011

Definitivamente.... simplesmente complicado



Ouro de tolo


Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou um dito cidadão respeitável

E ganho quatro mil cruzeiros

Por mês...

Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso

Na vida como artista

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar

Um Corcel 73...

Eu devia estar alegre

E satisfeito

Por morar em Ipanema

Depois de ter passado

Fome por dois anos

Aqui na Cidade Maravilhosa...

Ah!

Eu devia estar sorrindo

E orgulhoso

Por ter finalmente vencido na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E um tanto quanto perigosa...

Eu devia estar contente

Por ter conseguido

Tudo o que eu quis

Mas confesso abestalhado

Que eu estou decepcionado...

Porque foi tão fácil conseguir

E agora eu me pergunto "e daí?"

Eu tenho uma porção

De coisas grandes prá conquistar

E eu não posso ficar aí parado...

Eu devia estar feliz pelo Senhor

Ter me concedido o domingo

Prá ir com a família

No Jardim Zoológico

Dar pipoca aos macacos...

Ah!

Mas que sujeito chato sou eu

Que não acha nada engraçado

Macaco, praia, carro

Jornal, tobogã

Eu acho tudo isso um saco...

É você olhar no espelho

Se sentir

Um grandessíssimo idiota

Saber que é humano

Ridículo, limitado

Que só usa dez por cento

De sua cabeça animal...

E você ainda acredita

Que é um doutor

Padre ou policial

Que está contribuindo

Com sua parte

Para o nosso belo

Quadro social...

Eu que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada

Cheia de dentes

Esperando a morte chegar...

Porque longe das cercas

Embandeiradas

Que separam quintais

No cume calmo

Do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora

De um disco voador...

Ah!

Eu que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada

Cheia de dentes

Esperando a morte chegar...

Porque longe das cercas

Embandeiradas

Que separam quintais

No cume calmo

Do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora

De um disco voador...

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